1708

• No Bispado da Guarda, tres legoas desta Cidade para o Sul, tem seu sitio a Villa de Jarmello , de que he senhor o Marquez de Arronches, a qual mandou arrazar ElRey Dom Pedro o Primeiro dePortugal, por fer natural della Pedro Coelho, que matou a D. Ines de Castro
• Tem 250. viſinhos , divididos por tres Freguesias , a faber,
• • S. Maria com 16 visinhos,
  • S. Pedro com 140.
  • & S. Miguel com 94.
• todas Priorados, que apresenta o dito Marquez de Arronches.
• O seu termo tem os lugares seguintes.
• • Caſtanheira, Curado annexo à Igreja de S. Maria de Jarmello, que apresenta o Prior, tem 110 visinhos.
  • Rabaça, Curado, que aprefenta o mesmo Prior, tem 50 visinhos.
  • Pinzio, Curado da apresentação do Prior da Igreja de S. Pedro de Jarmello, tem 112 visinhos.
  • Trocheiros, Curado, que aprefenta o meſmo Prior de S. Pedro de Jarmello, tem 35 visinhos.
  • Ribeira dos Charinhos , Curado annexo à Igreja de S. Miguel de Jarmello, que apresenta o Prior, tem 40 visinhos.
  • Cheiras, Curado annexo à meſma Igreja, que apresenta o Prior, tem 66 visinhos.
  • Touto, Curado annexo à meſma Igreja que apresenta o Prior, tem 35 visinhos.

in Corografia Portuguesa

1873

• Villa,
• Beira Baixa, comarca, concelho
• a 12 kilometros da Guarda,
• 310 km. ao E. de Lisboa,
• 130 fogos, 600 almas.
• Era 1757 tinha 102 fogos.
• Orago o Archanjo S. Miguel.
• Bispado e districto administrativo da Guarda.
• Já era couto no reinado de D. Afonso Henriques. Depois passou a concelho com 1:060 fogos, que foi supprimido em 1835.
• Situada em terreno accidentado, na Serra da Estrella.
• Fazem-se aqui óptimos queijos.
• E' terra fértil.
• Havia antigamente tres freguezias d'este nome, que hoje estão reunidas, de que adiante tratarei. Além d'essas, ha mais a sceguinte, cujo orago é S. Pedro.
• É pátria de Pedro Coelho, um dos (cobardes assassinos de D. Ignez de Castro. Era filho de Estevão Coelho e D. Maria Mendes Petite. Elle, Alvaro Gonçalves e Diogo Lopes Pacheco, commetteram aquelle bárbaro assassínio, em Coimbra, a 7 de janeiro de 1355.  A Pedro Coelho, mandou D. Pedro I arrançar o coração pelo peito, e ao seu cúmplice, Alvaro Gonçalves, lhe foi arrancado pelas costas, em Santarém, a 18 de janeiro de 1357. Só escapou á vingança do rei, Diogo Lopes Pacheco, por ter fugido para a França, feito almocreve. D. Pedro I, ainda não contente com este horroroso castigo, mandou no mesmo anno de 1357, arrazar esta villa de Jermêllo (o que se fez) só por ser pátria de Pedro Coelho!
• Jermêllo é povoação multo antiga, pelo menos do tempo dos godos, que lhe chamavam Jarmello. D. Afonso Henriques lhe deu foral, em Coimbra, mas não tem data.
• D. Fernando mandou reedificar esta villa, pelos annos de 1375; e D. Manuel lhe deu novo foral, em Santarém, no 1.° de junho de 1510.
• Os duques de Lafões, que são também marquezes d'Arronches e condes de Miranda (do Corvo) eram senhores donatários das villas de Jermêllo, Folgosinho, Sóza, Podentes, Vouga, e Oliveira do Bairro.
• Esta egreja, como a da freguezia seguinte, é matriz de varias povoações espalhadas pela serra, e em bastante distancia umas das outras. (Não sei porque razão nenhuma das freguezias de Jermêllo vem mencionada na lei das côngruas.)
• As 3 antigas freguezias, que, como já disse, hoje estão reunidas ou annexas; são:Santa Maria, de Jermêllo, cujo parocho era cura da apresentação do prior da Castanheira, e tinha de rendimento 20$000 réis e o pé d'altar. Tinha em 1757 apenas 17 fogos. Fica a 12 kilometros da Guarda. Nossa Senhora da Conceição, de Jermêllo, cujo parocho era prior, collado, da apresentação dos marquezes d'Arronches e condes de Miranda (duques de Lafões). O prior tinha 500$000 réis de rendimento. Tinha em 1757 só 18 moradores. Fica a 12 kilometros da Guarda.
• S. Miguel, de Jermêllo, cujo prior, também collado, era da mesma apresentação do antecedente, e tinha de rendimento 200$000 réis. Tinha em 1757 102 fogos. Fica á mesma distancia da Guarda. Havia sete freguezias annexas a estes dois priorados e ao seguinte, todas apresentadas pelos duques de Lafões.
• Pretendem alguns que Jermêllo é corrupção do adjectivo árabe jobeilia, que significa montuoso, por ser derivado de iabalon, o monte. Ainda que o nome quadra ao sitio montanhoso do antigo couto de Jermêllo, parece-me esta etymologia bastante forçada.

"Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal